Nas noites de 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo, realizou-se a histórica Semana, com recitais, conferências, apresentações musicais e exposições. No evento, vários artistas mostravam obras com uma linguagem nova, afinada com as correntes estéticas do começo do século.
CARTAZ DE ABERTURA EXPOSTO
NO TEATRO MUNICIPAL EM SÃO PAULO
A abertura da Semana esteve a cargo de Graça Aranha, escritor pré-modernista que aderiu ao movimento dos modernos. Sua conferência foi ilustrada com declamação de poemas. Seguiu-se execão de peças de Villa-Lobos.
GRAÇA ARANHA
ESCRITOR PRÉ-MODERNISTA
PROFERIU O DISCURSO DE ABERTURA
DA SEMANA DE ARTE MODERNA
No dia 15, deu-se o segundo espetáculo artístico da Semana.
Menotti del Picchia expôs a platéia irrequieta o ideário do grupo modernista. "A nossa estética é de reação. Como tal, é guerreira..."
MENOTTI DEL PICCHIA
EXPÔS O IDEÁRIO
DO GRUPO MODERNISTA
Ainda na segunda noite, Ronald de Carvalho, complementando a Conferência declama no seu estilo inflamado o hoje conhecidíssimo poema "Os Sapos", de Manuel Bandeira - ironia mordaz - ridicularizando o Parnasianismo. Durante a declamação, o público gritava em uníssono um estribilho do poema: "Foi, não foi!".
RONALD DE CARVALHO
DECLAMA O POEMA "Os Sapos"
O poema "Os Sapos", que faz parte da obra "Carnaval", publicada em 1919 por Manuel Bandeira, satirizava violentamente o ritmo da poesia parnasiana e comparava os seus poetas a sapos coachando.
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas e forma.
Clame a saparia
Em críticas céticas:
"Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas..."
Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei" - "Foi!"
- "Não foi!" -"Foi!" -"Não foi!".
Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- "A grande arte é como
Lavor de joalheiro.
Ou tudo bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo".
Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas:
- "Sei!" - "Não sabe!" -"Sabe!".
Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa;
Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é
Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
da beira do rio...
Poesia e prosa. Rio de Janeiro, Aguillar, 1967.
ROTEIRO DE ESTUDO
1. Uma tendência forte no primeiro momento do Modernismo foi fazer o poema-piada, que consistiu, sobretudo, em desmoralizar os poetas acadêmicos. Na terceira estrofe do poema, o texto refere-se ao "sapo-tanoeiro". Recordando-se do Parnasianismo, quem pode encarnar esse sapo?
2. Atente para o verso: "Reduzi sem danos/A formas e forma." (devem ser lidas fôrma e fórma).
Comente esse trocadilho.
3. Preste atenção aos versos:
Não há mais poesia
Mas há artes poéticas...
Interprete esses versos.
4. As estrofes 9 e 10 tecem comentários em torno da ideia fixa na forma, que caracterizou a Escola Parnasiana. Encontre o poema de Olavo Bilac em que este compara a função do poeta à de um ourives-joalheiro. Transcreva alguns versos que confirmem a crítica tecida por Os Sapos.
5. Em sua opinião, quem é o "sapo-cururu"?
A noite mais agitada da SEMANA DE ARTE MODERNA foi quando Ronald de Carvalho declamou o poema "Os Sapos". Gritos e vaias do público acompanhavam a declamação. Os Modernistas tinham alcançado um dos seus objetivos declarados: "assustar a burguesia que cochila na glória de seus lucros". Nesse fato reside uma das contradições da proposta modernista, uma vez que a realização da Semana só foi possível graças ao apoio financeiro dos fazendeiros de café. Foi esse o clima que marcou a ruptura com o tradicionalismo. Nossos modernistas de primeiro momento apresentavam uma arte que estava em consonância com o grande movimento internacional de renovação de ideias, sobretudo com os estilos da vanguarda européia.
Além de empregar uma nova linguagem, os artistas da Semana atacavam abertamente o passado, sobretudo o Parnasianismo, estilo muito apegado a regras e que antecedera de perto o Modernismo, além de ser ainda aceito como referência para a classe dominante, que, como vimos, os artistas pretendiam chocar.
DIVULGAÇÃO DAS IDEIAS DA SEMANA
Os acontecimentos do Teatro Municipal, divulgados pela imprensa da época, provocaram adesões e oposições, ora serenas, ora radicais, em todo país.
No período compreendido entre 1922 e 1930 - primeira fase do Modernismo -, manifestos, revistas, grupos recém-formados difundiram-se por nosso cenário cultural como uma intensidade nunca vista no Brasil.
A lista é extensa e aparece aqui com caráter documental.
REVISTAS
1) Klaxon (São Paulo)
2) Estética (Rio de Janeiro)
3) Festa (Rio de Janeiro)
4) Terra Roxa e Outras Terras (São Paulo)
5) Verde (Cataguazes, Minas Gerais)
6) Revista de Antropofagia (São Paulo)
7) A Revista (Belo Horizonte)
GRUPOS
1) Pau-Brasil (São Paulo)
2) Antropófago (São Paulo)
3) Verde-Amarelo (São Paulo), depois
Escola da Anta (São Paulo)
4) Grupo de Porto Alegre (Rio Grande do Sul)
5) Grupo modernista-regionalista de Recife (Pernambuco)
MANIFESTOS
1) Manifesto da Poesia Pau-Brasil
2) Manifesto Antropófago
3) Manifesto Regionalista de 1926
(Na verdade,não era um manifesto, mas um conjunto de declarações)
4) Manifesto Nhenguaçu Verde-Amarelo
MANIFESTO PAU-BRASIL
Publicado no Correio da Manhã em 18 de março de 1924, foi escrito por Oswald de Andrade em Paris.
O título do manifesto prende-se à ideia de que o pau-brasil tinha sido o primeiro produto genuinamente brasileiro "de exportação". O que Oswald pretendia era uma poesia autenticamente brasileira, e de exportação.
Basicamente, o manifesto propunha a valorização dos estados primitivos da cultura brasileira.
Publicado na Revista de Antropofagia em maio de 1928, este foi o mais radical de todos os manifestos da primeira fase modernista.
Propunha, basicamente, a devoração da cultura e das técnicas importadas e sua reelaboração com autonomia, transformando o produto importado em exportável.
O nome do manifesto recuperava uma crença indígena: os índios antropófagos comiam o inimigo, supondo que assim estavam assimilando suas qualidades.
A ideia do manifesto surgiu quando Tarsila do Amaral ofereceu ao então marido, Oswald de Andrade, como presente de aniversário, a tela ABAPORU (aba= homem; poru=que come).
TARSILA DO AMARAL
PINTORA
ABAPORU, pintura de TARSILA DO AMARAL,
de 1928 oferecida a Oswald de Andrade
OSWALD DE ANDRADE
As linhas gerais da Revista Antropofagia seriam retomadas em 1967, quando Caetano Veloso, Gilberto Gil, Torquato Neto e o maestro Rogério Duprat, entre outros, lançaram o TROPICALISMO.
CAETANO VELOSO
GILBERTO GIL
TORQUATO NETO
ROGÉRIO DUPRAT
MAESTRO
MOVIMENTO DE RENOVAÇÃO MUSICAL
QUE GANHOU ADEPTOS NA LITERATURA,
NO CINEMA E NO TEATRO.