POESIA ROMÂNTICA
AS TRÊS GERAÇÕES DA POESIA ROMÂNTICA
GERAÇÃO |
POETAS | CARACTERÍSTICASa |
1ª | GONÇALVES MAGALHÃES |
RELIGIOSIDADE |
GONÇALVES DIAS |
NACIONALISMO UFANISTA |
|
2ª | ÁLVARES DE AZEVEDO |
"MAL DO SÉCULO" |
CASIMIRO DE ABREU |
MELANCOLIA | |
FAGUNDES VARELA |
PESSIMISMO | |
JUNQUEIRA FREIRE |
||
3ª | CASTRO ALVES |
CONDOREIRISMO |
TOBIAS BARRETO |
POESIA SOCIAL |
PRIMEIRA GERAÇÃO ROMÂNTICA
( INDIANISTA / NACIONALISTA )
Esta geração é marcada pela busca de uma identidade nacional. Voltados para a recuperação das tradições brasileiras, por influência de autores europeus, os poetas desta primeira geração tentam resgatar, através da figura do índio, o herói que, na Europa, foi encontrado na Idade Média.
AUTORES DA PRIMEIRA GERAÇÃO
GONÇALVES DE MAGALHÃES
(Rio de Janeiro-RJ, - Roma-Itália,1882)
Domingos José Gonçalves de Magalhães nasceu no Rio de Janeiro, em 1811, e morreu em Roma, em 1882. Publica seu primeiro livro, Poesias, em 1832.
Gonçalves de Magalhães publica, em Paris, em 1836, Suspiros Poéticos e Saudades, considerado o primeiro livro romântico brasileiro, cujo prefácio é um verdadeiro manifesto em prol da nova estética.
Essa obra tem valor histórico, uma vez que é de grande importância para o Romantismo no Brasil e da reforma nacionalista da nossa literatura.
Gonçalves de Magalhães teve importância histórica na introdução da estética romântica e na batalha pela reforma nacionalista da literatura brasileira.
Em 1856, Gonçalves de Magalhães publica A Confederação dos Tamoios, poema épico em dez cantos, versos decassílabos, estrofação livre. Nele o poeta trata das lutas dos tamoios contra o povo colonizador, nas quais Anchieta e Nóbrega assumem um papel de grande importância.
OBRAS:
POESIA: Poesia lírica: "Suspiros Poéticos e Saudades" (1836);
Poesia épica: "A Confederação dos Tamoios" (1856);
Os Mistérios (1858);
Cânticos Fúnebres (1864);
NOVELA: Amância (1844);
TEATRO(em verso): Antônio José ou O Poeta e a Inquisição (1838).
GONÇALVES DIAS
(Caxias-MA,1823 - São Luís-MA, 1864)
ANTÔNIO GONÇALVES DIAS nasceu em 1823, em Caxias, no Maranhão e morreu no naufrágio do Ville Boulogne, em 1864. Filho de um comerciante portu"guês e de uma cafuza (mestiça de negro e índio), pois o poeta se dizia descendente de três raças que formaram a etnia brasileira. Gonçalves Dias transmite em sua obra a marca
dessa origem.
Estudou na Europa, em Coimbra, onde concluiu o curso de Humanidades, vivendo quatorze anos de sua curta existência. De volta ao Brasil, em 1854, lecionou Latim e História no Colégio Pedro II. Participou de várias missões de estudo no Brasil e na Europa. Dominava a língua portuguesa em todos os seus aspectos, escrevendo o belo poema "Sextilhas de Frei Antão" (1848), em português arcaico e medieval. Amava Ana Amélia Ferreira do Vale, com quem pretendia se casar, mas foi impedido por ser mestiço.
Gonçalves Dias foi um poeta de fértil imaginação e acentuada sensibilidade. Lançou, em 1846, seu livro de estréia "Primeiros Cantos". Com a preocupação romântica de retorno ao passado, valorizou nosso indígena, tomando-o por tema em seus melhores poemas, como "I-Juca Pirama", "Marabá", "Canção do Tamoio", "O Canto do Piaga", "Leito de Folhas Verdes", "Os Timbiras", poema inacabado em versos brancos. Parte dele se perdeu no naufrágio do navio Ville de Boulogne, que levou à morte o poeta quando voltava da Europa. Embora não tenha sido ele o introdutor deste tema na poesia brasileira, é considerado O MAIOR AUTOR INDIANISTA BRASILEIRO.
O índio em seus poemas é interpretado como um herói num cenário vivo e exuberante. Gonçalves Dias defendeo-o da dominação dos brancos invasores. Ao lado da poesia indianista, escreveu ainda belas páginas líricas. Muitos temas e formas da sua poesia servirão de modelo autores de períodos posteriores ao Romantismo.
OBRAS:
POESIA: "Primeiros Cantos" (1846);
"Segundos Cantos e Sextilhas de frei Antão"(1848);
"Últimos Cantos" (1851);
"Os Timbiras" (1857).
TEATRO: "Beatriz Cenci" (1843);
"Leonor de Mendonça" (1847);
"Boabdil" (1850).
OUTROS GÊNEROS: "Memórias de Agapito Goiaba (1841);
"Dicionário da língua tupi" (1858).
Gonçalves Dias deu uma nova dimensão à abordagem do índio, uma vez que os poetas árcades Basílio da Gama e Santa Rita Durão já o tinham dado tal relevância.
GONÇALVES DIAS BASÍLIO DA GAMA SANTA RITA DURÃO
O ÍNDIO
REPRESENTOU A NACIONALIDADE
Mais tarde, os Modernistas e o tropicalista Caetano Veloso vem destacar a tendência nativista de nossa literatura com sua música "Um índio". No entanto, o indígena da atualidade sobrevive lutando pela demarcação de sua terra e pela preservação de sua identidade.
Caetano Veloso
MÚSICA
"UM ÍNDIO"
O ÍNDIO
NA CONTEMPORANEIDADE
I-Juca Pirama significa "aquele que vai morrer". O poema conta a história de um índio tupi que, capturado pelos timbiras, deve ser sacrificado por eles. Entretanto, pensando em seu velho e cego pai, que dependia dele, pede para que não o matem. Achando-o covarde, os timbiras soltam-no.
I-JUCA PIRAMA
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo tupi.
Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci:
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.
Já vi cruas brigas,
De tribos imigas,
E as duras fadigas
da guerra provei;
Nas ondas mendaces
Senti pelas faces
Os silvos fugaces
Dos ventos que amei.
..........................................
POESIA LÍRICO AMOROSA
Na obra de Gonçalves Dias são frequentes os poemas líricos em que a figura da mulher idealizada e perfeita é motivo de sofrimento por parte do poeta.
SEUS OLHOS
"Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
De vivo luzir,
Estrelas incertas, que as águas dormentes
Do mar vão ferir;
Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Têm meiga expressão,
Mais doce que a brisa, - mais doce que o nauta
De noite cantando, - mais doce que a frauta
Quebrando a solidão.
Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
De vivo luzir.
São meigos infantes, gentis, engraçados
Brincando a sorrir.
São meigos infantes, brincando, saltando
Em jogo infantil,
Inquietos, travessos; - causando tormento,
Com beijos nos pagam a dor do momento,
Com modo gentil.
Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Assim é que são:
Às vezes luzindo, serenos, tranquilos,
Às vezes vulcão.
EXALTAÇÃO DA PÁTRIA/SAUDOSISMO
CANÇÃO DO EXÍLIO
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite -
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá
DIAS,Antônio Gonçalves. Poesias Completas.
São Paulo, Saraiva,1957.p83-4.
O POEMA "CANÇÃO DO EXÍLIO"
FOI CRIADO EM 1843
TEMAS DA POESIA
* A SAUDADE
* O AMOR
POETAS DA SEGUNDA GERAÇÃO ROMÂNTICA
Os principais poetas desse grupo foram Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela e Junqueira Freire.
ÁLVARES DE AZEVEDO
O POETA MAIS TÍPICO REPRESENTANTE
DO MAL DO SÉCULO NA POESIA BRASILEIRA
Manuel Antônio Álvares de Azevedo nasceu em São Paulo (1831) e morreu no Rio de Janeiro (1852). Fez o curso secundário no Colégio Pedro II e a Faculdade de Direito em São Paulo. De vida boêmia e agitada, morreu aos 21 anos, sem completar sua formação literária.
Dado seu interesse pela cultura européia, lia avidamente os mais famosos poetas românticos, tanto os da língua portuguesa como os de língua francesa, inglesa e alemã: Byron, Shelley, Goethe, Musset, Lamartine e outros. Desses autores herdou o que mais lhe conveio à sensibilidade: o sentimentalismo doentio.
SEUS TEMAS PREFERIDOS ERAM:
* AMOR;
* MORTE;
* TÉDIO;
* MUSAS;
* MÃE;
* IRMÃ.
TINHA VERDADEIRA OBSESSÃO PELA MORTE
E SENTIU A ETERNA AUSÊNCIA DO AMOR.
O DESREGRAMENTO E A DEGRADAÇÃO
EM SUAS HISTÓRIAS ERAM MAIS FRUTO DA IMAGINAÇÃO
DO QUE REFLEXO DA SUA VIDA PRIVADA.
OBRAS:
POESIA: Lira dos Vinte Anos (1853);
O Conde Lopo (1866);
CONTO: Noite na Taverna ( 1855).
TEATRO: Macário (1855).
A obra poética de Álvares de Azevedo marca-se pelo exagerado SUBJETIVISMO, que leva o poeta a ver O AMOR e A FELICIDADE como coisas inatingíveis. A depressão, o devaneioe a ideia de morte aparecem com frequência.
O TEXTO POÉTICO QUE SEGUE DESTACA ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DE SUA OBRA:
LEMBRANÇA DE MORRER
Quando em meu peito rebentar-se a fibra,
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nenhuma lágrima
Em pálpebra demente.
E nem defolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento:
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.
Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poente caminheiro
- Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;
Como o desterro de minh'alma errante,
Onde fogo insensato a consumia;
Só levo uma saudade - é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.
Só levo uma saudade - é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas...
De ti, ó minha mãe! pobre coitada
Que por minha tristeza te definhas!
De meu pai... de meus únicos amigos,
Poucos - bem poucos - e que não zombavam
Quando, em noites de febre endoidecido,
Minhas pálidas crenças duvidavam.
Se uma lágrima as pálpebras me inunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda,
É pela virgem que sonhei... que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!
Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores...
Se viveu, foi por ti! e de esperança
De na vida gozar de teus amores.
Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho amigo...
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!
Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida.
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
- Foi poeta - sonhou - e amou na vida.
Sombras do vale, noites da montanha,
Que minh'alma cantou e amava tanto,
Protegei o meu corpo abandonado,
E no silêncio derramai-lhe canto!
Mas quando preludia ave d'aurora
E quando à meia-noite o céu repousa...
Arvoredos do bosque, abri os ramos...
Deixai a lua prantear-me a lousa!
ÁLVARES DE AZEVEDO. Lembrança de morrer. In: ---. Poesia.
5. ed. Rio de Janeiro, Agir,1977.p.43-5.(Col.Nossos Clássicos.)
Poesia
SE SE MORRE DE AMOR
Se se morre de amor! - Não, não se se morre,
Quando é fascinação que nos surpreende
De ruidoso sarau entre os festejos;
Quando luzes, calor, orquestra e flores
Assomos de prazer nos raiam n'alma,
Que embelezada e solta em tal ambiente
No que ouve, e no que vê prazer alcança!
Simpáticas feições, cintura breve,
Graciosa postura, porte airoso,
Uma fita, uma flor entre os cabelos,
Um quê mal definido, acaso podem
Num engano d'amor arrebatar-nos.
Mas isso amor não é; isso é delírio,
Ao somfinal da orquestra, ao derradeiro
Clarão, que as luzes no morrer despedem:
Se outro nome lhe dão, se amor o chamam,
D'amor igual ninguém sucumbe à perda.
Amor é vida; é ter constantemente
Alma, sentidos, coração - abertos
Ao grande, ao belo; é ser capaz d'extremos,
D'altas virtudes, té capaz de crimes!
Compr'ender o infinito, a imensidade,
E a natureza e Deus; gostar dos campos
D'aves, flores, murmúrios solitários;
Buscar tristeza, a soledade, o ermo,
E ter o coração em riso e festa;
E à branda festa, ao riso da nossa alma
Fontes de pranto intercalar sem custo;
Conhecer o prazer e a desventura
No mesmo tempo, e ser no mesmo ponto
O ditoso, o misérrimo dos entes:
Isso é amor, e desse amor se morre!
...........................................................
SE EU MORRESSE AMANHÃ
Poesia "Se eu morresse amanhã"
Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!
Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que manhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!
Que sol! que céu azul! que doce n'alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!
AZEVEDO, Álvares de - ANTOLOGIA ESCOLAR BRASILEIRA,
de Marques Rebelo - MEC, RJ, pág. 247.
FAGUNDES VARELA
O AUTOR DA MAIOR ELEGIA
DA LITERATURA BRASILEIRA
Luís Nicolau FAGUNDES VARELA nasceu no município de Rio Claro, Estado do Rio, em 1841, e faleceu em Niterói, em 1875. Estudou Direito, sem ter concluído o curso. A morte de seu pequeno filho Emiliano marcou muito sua vida e inspirou o poema "CÂNTICO DO CALVÁRIO".
Logo a seguir, perde a esposa. Desalentado, procura no álcool e na vida boêmia lenitivo para seus infortúnios. Apesar de boêmio, Fagundes Varela era muito religioso e nos deixou vários poemas que versam sobre religiosidade.
TEMAS ABORDADOS NAS POESIAS:
* RELIGIOSIDADE;
* TEMAS ROMÂNTICOS, COMO:
- A SAUDADE, O AMOR LÍRICO;
* O PATRIOTISMO;
* MAL DO SÉCULO.
SUA POESIA ABRANGE AINDA TEMAS SOCIAIS,
COMO A LIBERTAÇÃO DOS ESCRAVOS.
Leia o início do melhor POEMA DE FAGUNDES VARELA (1841-1875), dedicado ao filho morto com apenas alguns meses de vida.
CÂNTICO DO CALVÁRIO
À memória de meu filho morto a
11 de dezembro de 1863.
Eras na vida a pomba predileta
Que sobre um mar de angústias conduzia
O ramo da esperança. Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro.
Eras a messe de um dourado estio.
Eras o idílio de um amor sublime.
Eras a glória, a inspiração, a pátria,
O porvir de teu pai! - Ah! no entanto,
Pomba, - varou-te a flecha do destino!
Astro, - engoliu-te o temporal do norte!
Teto, - caíste! - Crença, já não vives!
Correi, correi, oh! lágrimas saudosas,
Legado acerbo da ventura extinta,
Dúbios archotes que a tremer clareiam
A lousa fria de um sonhar que é morto!
Correi! um dia vos verei mais belas
Que os diamantes de Ofir e de Golgonda
Fulgurar na coroa de martírios
Que me circunda a fronte cismadora!
São mortos para mim da noite os fachos,
Mas Deus vos faz brilhar, lágrimas santas,
E à vossa luz caminharei nos ermos!
Estrelas do sofrer, gotas de mágoa,
Brando orvalho do céu! Sede benditas!
Oh! filho de minh'alma! Última rosa
Que neste solo ingrato vicejava!
Minha esperança amargamente doce!
Quando as garças vierem do ocidente
Buscando um novo clima onde pousarem,
Não mais te embalarei sobre os joelhos,
Nem de teus olhos no cerúleo brilho
Acharei um consolo a meus tormentos!
Não mais invocarei a musa errante
Nesses retiros onde cada folha
Era um polido espelho de esmeralda
Que refletia os fugitivos quadros
Dos suspirados tempos que se foram!
Não mais perdido em vaporosas cismas
Escutarei ao pôr do sol, nas serras,
Vibrar a trompa sonorosa e leda
Do caçador que aos lares se recolhe!
Não mais! A areia tem corrido, e o livro
De minha infanda história está completo!
Pouco tenho de andar! Um passo ainda
E o fruto de meus dias, negro, podre,
Do galho eivado rolará por terra!
Ainda um treno, e o vendaval sem freio
Ao soprar quebrará a última fibra
Da lira infausta que nas mãos sustento!
Fagundes Varela e outros poetas de sua geração foram boêmios. Procuravam na bebida e na boêmia uma fuga para seus problemas e angústia. Hoje, muita gente ainda continua procurando uma "fuga" para seus problemas, seja no álcool, seja nos tóxicos. Alguns consideram essa atitude uma covardia e uma fraqueza perante a vida. Outros pensam que é uma doença que necessita de tratamento.
CASIMIRO DE ABREU
CONHECIDO COMO "O POETA DA SAUDADE"
CASIMIRO José Marques DE ABREU nasceu em Barra se São João (RJ), em 1839, e morreu em Nova Friburgo, também no Rio, em 1860. Era filho de pai português e mãe brasileira. Encaminhado para o comércio a contragosto, divide suas atividades entre a literatura e o comércio. De saúde fraca e vida boêmia, morreu muito jovem (21 anos), vítima de tuberculose.
Na sua curta existência, Casimiro de Abreu foi também acometido, como Álvares de Azevedo, do "mal do século" e criou poemas que refletem em parte sua vida agitada e de fantasias.
Seus temas preferidos foram o amor lírico e a saudade. Viveu algum tempo em Portugal, longe de sua Pátria e de seus amigos, e este fato o levou a criar poemas saudosistas.
POESIA: Sua principal obra: "Primaveras" (1859).
TEATRO: Camões e o jau (drama camoniano, 1856).
TEMÁTICA PREDOMINANTE
EM CASIMIRO DE ABREU:
* O LAR;
* O AMOR À MÃE E A IRMÃ;
* O DESAMPARO AMOROSO;
* INFELICIDADE DA EXISTÊNCIA;
* A INFÂNCIA;
* A TERRA NATAL;
* A SAUDADE.
OS TEMAS HUMANOS DE CASIMIRO DE ABREU
ENVOLVEM A PROFUNDIDADE PSICOLÓGICA
E, MUITAS VEZES, PARA O SENTIMENTALISMO,
TENDÊNCIA DA POESIA INDIVIDUALISTA
E ULTRA-ROMÂNTICA.
A POESIA DE CASIMIRO DE ABREU
É SINGELA, ESPONTÂNEA E, POR VEZES, INFANTIL.
A SIMPLICIDADE DE SUA LINGUAGEM
E A PUREZA DE SEUS RITMOS
FIZERAM DE CASIMIRO UM DOS POETAS
MAIS LIDOS E POPULARES DO ROMANTISMO BRASILEIRO.
Poema
MEUS OITO ANOS
Oh! souvenirs! printemps! aurores! (V.Hugo)
(Oh! lembranças! primaveras! auroras!)
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é - lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d'amor!
Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia!
E a lua beijando o mar!
Poema
AMOR E MEDO
Ai! se eu te visse no calor da sesta,
A mão tremente no calor das tuas,
Amarrotado o teu vestido branco,
Soltos cabelos nas espáduas nuas!...
Ai! se eu te visse, Madalena pura;
Sobre o veludo reclinada a meio,
Olhos cerrados na volúpia doce,
Os braços frouxos - palpitantes o seio!...
Ai! se eu te visse em languidez sublime,
Na face as rosas virginais do pejo,
Trêmula a fala a protestar baixinho...
Vermelha a boca, soluçando um beijo!...
JUNQUEIRA FREIRE
Luís José JUNQUEIRA FREIRE nasceu em Salvador, em 1832, e faleceu em 1855. Tendo professado na Ordem de São Bento, abandona o hábito e dedica-se à obra literária. Sua poesia pode ser classificada em:
* filosófica-religiosa;
* lírico-amorosa;
* social.
PRINCIPAIS TEMAS ABORDADOS EM SUAS POESIAS:
*A MORTE ( É VISTA COMO ALTERNATIVA
DE PAZ E LIBERTAÇÃO)
EM SUA POESIA TRANSPARECE A SEDE DE INFINITO,
A ANGÚSTIA DA VIDA,
A RELIGIÃO E A FILOSOFIA
COMO APOIOS DA EXISTÊNCIA.
OBRAS:
1- "INSPIRAÇÕES DO CLAUSTRO" (1855)
2- "CONTRADIÇÕES POÉTICAS"
A crítica considera que a poesia de Junqueira Freire decorre da oposição entre o sentimento religioso e o erotismo contido. Dessa contradição resulta a obsessão pela morte, como se pode observar no texto seguinte.
Poema
MORTE
.........................................................................
Também desta vida à campa
Não transporto uma saudade.
Cerro meus olhos contente
Sem um ai de ansiedade.
E como autômato infante
Que inda não sabe sentir,
Ao pé da morte querida
Hei de insensato sorrir.
Por minha face sinistra
Meu pranto não correrá.
Em meus olhos moribundos
Terrores ninguém lerá.
Não achei na terra amores
Que merecessem os meus.
Não tenho um ente no mundo
A quem diga o meu - adeus.
Não posso da vida à campa
Transportar uma saudade.
Cerro meus olhos contente
Sem um ai de ansiedade.
Por isso, ó morte, eu amo-te, e não temo:
Por isso, ó morte, eu quero-te comigo.
Leva-me à região da paz horrenda,
Leva-me ao nada, leva-me contigo.
JUNQUEIRA FREIRE. Morte. In: ANTONIO CANDIDO E CASTELLO,J.
Aderaldo. Op.cit.,p.35-6.
O ARRANCO DA MORTE
Pesa-me a vida já. Força de bronze
Os desmaiados braços me pendura.
Ah! já não pode o espírito cansado
Sustentar a matéria.
Eu morro, eu morro. A matutina brisa
Já não me arranca um riso. A rósea tarde
Já não me doura as descoradas faces,
Que gélidas se encovam.
O noturno crepúsculo caindo
Já não me lembra o escurecido bosque
Onde me espera a meditar prazeres
A bela que eu amava.
A meia-noite já não traz-me em sonhos
As formas dela - desejos e lânguida -
Ao pé do leito, recostada em cheio
Sobre meus braços ávidos.
A cada instante o coração vencido
Diminui um palpite; o sangue, o sangue.
Que nas artérias férvido corria,
Arroxa-se e congela.
Ah! é chegada a minha hora extrema!
Vai o meu corpo dissolver-se em cinza;
Já não podia sustentar mais tempo
O espírito tão puro.
POETAS DA TERCEIRA GERAÇÃO ROMÂNTICA
CASTRO ALVES
CONHECIDO COMO
"O POETA DOS ESCRAVOS"
Antônio Frederico CASTRO ALVES nasceu em Curralinho, na Bahia, em 1847. Filho de médico, fez seus estudos secundários no Ginásio Baiano de Abílio César Borges. Cursou Direito em Recife e São Paulo, onde suas ideias de liberdade tomaram consistência. Vítima de um acidente de caça, sofreu amputação num pé. Depois, atacado de tuberculose, morreu em pleno fulgor da vida e da carreira, em 1871, em Salvador.
TEMAS EM DESTAQUE
NAS SUAS POESIAS
Castro Alves , através de sua eloquente poética, destacou-se como:
* POETA SOCIAL - intérprete da liberdade, da justiça e do progresso. Defendeu sobretudo os escravos, como em "Vozes d'África", "Navio Negreiro", "A Mãe do Cativo", "A Cruz da Estrada", "A Canção do Africano" e "Saudação a Palmares", entre outros poemas.
* POETA LÍRICO-AMOROSO - sem o sentimentalismo dos poetas do "mal do século", escreveu inspirado em sua experiência amorosa. É esse essencialmente o caráter de "Espumas Flutuantes", único livro que publicou em sua vida.
* POETA DA NATUREZA - pintando e cantando a paisagem brasileira, como em "A Cachoeira de Paulo Afonso".
OS VERSOS DE CASTRO ALVES ERAM:
* INFLAMADOS;
* HAVIAM OUSADAS METÁFORAS;
* HIPÉRBOLES E APÓSTROFES,
COM MUITA ARTE E EXPRESSIDADE.
OBRAS:
POESIA:
Leia um trecho de O Navio Negreiro
"O NAVIO NEGREIRO"
(Trágégia no Mar)
'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o luar - dourada borboleta -
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.
'Stamos em pleno mar... Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias.
- Constelações do líquido tesouro...
'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...
'Stamos em pleno mar... Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas...
Donde vem? onde vai? das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço.
Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!...
Embaixo - o mar... em cima - o firmamento...
E no mar e no céu - a imensidade!
Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!
Homens do mar! Ó rudes marinheiros,
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos!
Esperai!... esperai! - deixai que eu beba
Esta selvagem, livre poesia...
Orquestra - é o mar, que ruge pela proa,
E o vento, que nas cordas assobia...
(...)
Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar - doudo cometa!
Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviatã do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.
(Apud: CÂNDIDO, Antônio & CASTELLO, J. Aderaldo. Presença da literatura brasileira. 3. ed. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil,1988. p.264-165.)
Um poema extraído de "Os Escravos".
A CANÇÃO DO AFRICANO
Lá na úmida senzala,
Sentado na estreita sala
Junto ao braseiro, no chão,
Entoa o escravo o seu canto,
E ao cantar correm-lhe em pranto
Saudades do seu torrão...
De um lado, uma negra escrava
Os olhos no filho crava,
Que tem no colo a embalar...
E à meia voz lá responde
Ao canto, e o filhinho esconde,
Talvez pr'a não o escutar!
"Minha terra é lá bem longe,
Das bandas de onde o sol vem;
Esta terra é mais bonita,
Mas à outra eu quero bem!
"O sol faz lá tudo em fogo,
Faz em brasa toda a areia;
Ninguém sabe como é belo
Ver de tarde a papa-ceia!
"Aquelas terras tão grandes,
Tão compridas como o mar,
Com suas poucas palmeiras
Dão vontade de pensar...
Lá todos vivem felizes,
Todos dançam no terreiro;
A gente lá não se vende
Como aqui, só por dinheiro."
O escravo calou a fala,
Porque na úmida sala
O fogo estava a apagar;
E a escrava acabou seu canto,
Pr'a não acordar com o pranto
O seu filhinho a sonhar!
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CASTRO ALVES. Os Escravos. Belo Horizonte,
Itatiaia, 1977. p.31-3.
COMENTÁRIOS SOBRE O POEMA
Poema lírico
A poesia lírico-amorosa de Castro Alves denuncia paixão e sensualidade tropical.
O ADEUS DE TERESA
A vez primeira que eu Teresa,
Como as plantas que arrasta a correnteza,
A valsa nos levou nos giros seus...
E amamos juntos... E depois na sala
- Adeus! - eu disse-lhe a tremer co'a fala...
E ela, corando, murmurou-me: "Adeus".
Uma noite... entreabriu-se um reposteiro...
E da alcova saía um cavaleiro
Inda beijando uma mulher sem véus...
Era eu... Era a pálida Teresa!
- Adeus! - lhe disse conservando-a presa...
E ela entre beijos murmurou-me: "Adeus".
Passaram-se tempos... séc'los de delírio,
Prazeres divinais... gozos do Empíreo...
... Mas um dia volvi aos lares meus.
Partindo eu disse: - "Voltarei!... descansa!..."
Ela, chorando mais que uma criança,
Ela em soluços murmurou-me: "Adeus"!
Quando voltei... era o palácio em festa!...
E a voz d'Ela e de um homem lá na orquestra
Preenchiam de amor o azul dos céus.
Entrei!... Ela me olhou branca... surpresa!
Foi a última vez que eu vi Teresa!...
E ela arquejando murmurou-me: "Adeus"!
(CASTRO ALVES, Antônio Frederico de. Poesias completas. São Paulo. Nacional,1959.p.63.)
"O Adeus de Teresa" é um poema lírico que gira em torno de uma história amorosa do poeta com a atriz Eugênia Câmara. Em quatro momentos a amada murmura adeus.
JOAQUIM DE SOUSA ANDRADE (SOUSÂNDRADE)